Bezerras leiteiras precisam de uma dieta bem equilibrada

Boas práticas de manejo e muita atenção aos detalhes são exigências para a criação de bezerros principalmente do nascimento ao desaleitamento. A alimentação representa de 50 a 60% dos custos de produção das diferentes espécies de ruminantes criadas com finalidade econômica. Quando se prioriza eficiência, a nutrição assume importância fundamental.

Durante a gestação das novilhas e vacas gestantes devem ser fornecidas aos animais dietas bem equilibradas para garantia de bom desenvolvimento fetal, adequada formação de colostro e boa lactação, durante toda a gestação e no período de transição. A demanda de nutrientes para o feto torna-se particularmente importante durante o último trimestre da gestação, observando-se que 60% do ganho de peso fetal ocorrem durante os dois últimos meses da gestação.

Os bezerros após o nascimento passam por várias mudanças fisiológicas para adaptação à vida extrauterina. A primeira e mais imediata é a de iniciar os movimentos respiratórios. O controle do balanço ácido-básico precisa ser iniciado o mais breve possível, e todo o metabolismo precisa estar funcionando para que o organismo possa iniciar o catabolismo de carboidratos, gordura e aminoácidos a fim de fornecer energia para as funções corporais (Davis e Drackley, 1998).

Outra adaptação necessária é a regulação da temperatura corporal. Para isso, os bezerros precisam rapidamente ativar os mecanismos termogênicos, como o tremor e o metabolismo da gordura marrom. Iniciado este processo, e somando-se a ele a ingestão do colostro e secagem dos pelos, a produção de calor corporal aumenta e a temperatura corporal se estabiliza dentro dos limites fisiológicos, em torno de 48 a 72 horas de vida (Davis e Drackley, 1998).

O colostro é a primeira fonte de nutrientes. Ele possui duas vezes mais sólidos totais que o leite. As porcentagens de proteína e gordura são altas, e a de lactose é menor que no leite integral. A lactose e a gordura presentes no colostro são fontes de energia para os bezerros. Nos primeiros três a cinco dias de vida, o bezerro deve receber o leite de transição da mãe.

O bezerro é funcionalmente não ruminante, antes do desenvolvimento do retículo-rúmen, e o abomaso é o compartimento funcional dos estômagos do bezerro, o que o torna dependente de enzimas digestivas.

Nesta fase, o animal tem alta eficiência para digestão de proteínas do leite, lactose e triacilglicerol, mas é menos capaz de digerir proteínas que não sejam do leite ou polissacarídeos como amido, o que limita os ingredientes que podem ser utilizados nos sucedâneos de leite sem comprometimento do crescimento e da saúde dos bezerros (Drackley, 2008).

Após os primeiros três a cinco dias de vida (recebendo colostro e leite de transição), deve-se iniciar o fornecimento de dieta líquida aos animais, um procedimento que pode ser feito tanto pelo aleitamento natural (bezerro mamando na vaca) como pelo aleitamento artificial (mamadeiras e baldes).

A utilização do aleitamento natural é realizada quando a produção de leite total/animal é igual ou inferior a 8kg de leite/dia e quando as vacas não descem o leite sem a presença do bezerro. O aleitamento artificial é realizado quando a vaca desce o leite sem a presença do bezerro.

Os bezerros, assim como os outros animais, necessitam de nutrientes para sua manutenção e crescimento. O gasto de energia para mantença envolve as funções básicas necessárias para manter o animal vivo, a temperatura corporal em climas frios ou quentes, a resposta imune aos agentes infecciosos e a acomodação a agentes estressores. O crescimento é o acúmulo de novos tecidos corporais e, antes do desaleitamento, ocorre principalmente nos sistemas esquelético e muscular, sendo necessária a deposição de proteína nos ossos e músculos, com correspondente mineralização da matriz óssea proteica. Alguns lipídios (principalmente os fosfolipídios) são depositados nos tecidos e servem como energia adicional na forma de triacilglicerol (Drackley, 2008).

A definição das exigências nutricionais de proteína dos bezerros lactantes visa assegurar o suprimento adequado de aminoácidos para o rápido crescimento estrutural e a deposição de tecido magro (muscular), enquanto minimiza os custos e excessos da excreção de nitrogênio. As exigências de proteína para mantença são pequenas (em torno de 30g/d em bezerros com 45kg/PV) e não parecem ser substancialmente alteradas pelo estresse, pelo frio ou calor. A exigência de proteína é, na maioria das vezes, determinada pela taxa de crescimento.

Um fator importante para o desenvolvimento do rúmen é a ingestão de concentrados. O aumento do fornecimento de dieta líquida pode reduzir o consumo de concentrados pelos bezerros. No entanto, animais saudáveis possuem bom apetite e, em fase de crescimento, ingerem quantidades suficientes da dieta sólida que permitem o desenvolvimento ruminal (Drackley, 2005).

Depois de 14 dias de idade, os bezerros já são capazes de ingerir alimentos sólidos, mas, somente após o primeiro mês de vida, são capazes de ingerir quantidades suficientes de concentrados que irão começar a contribuir com apreciável quantidade de energia metabólica. A nutrição na fase inicial da vida dos bezerros pode trazer efeitos em longo prazo na vida do animal, como melhora do desenvolvimento e funcionamento do sistema imunológico, aumento precoce do desenvolvimento mamário, alteração do funcionamento e desenvolvimento endócrino, maior deposição de tecidos magros e maior produção futura de leite (Van Amburgh, 2003).

O colostro, o leite de transição, o leite de descarte e sucedâneos do leite são os substitutivos do leite mais utilizados. A utilização do colostro e do leite de transição tem vantagens econômicas (produto sem valor comercial) e nutricionais (alto valor proteico e vitamínico), aumenta as defesas contra infecções no trato digestivo, reduz a morbidade e melhora o desempenho dos animais.

O leite de descarte é o leite de vacas em tratamento com fármacos antimicrobianos. Este produto representa economia para as fazendas (é considerado uma fonte de alimento sem custo, pois não pode ser comercializado) e reduz impactos sobre o ambiente, todavia são necessários alguns cuidados na sua administração. Atualmente, o uso de leite de vacas em tratamento com fármacos antimicrobianos tem sido desencorajado nos EUA, Canadá e Europa, devido ao risco de ingestão de patógenos.

Os sucedâneos do leite são uma combinação de produtos de origem vegetal e animal, destinados a substituir completamente o leite. Um bom sucedâneo deve ser de fácil preparo e administração, ser palatável, não sedimentar, ser nutricionalmente adequado, pobre em fibra (máximo de 3%), rico em proteína (20% ou mais) e energia 95%NDT, enriquecido com minerais e vitaminas e não provocar diarreias. Os sucedâneos apresentam a vantagem de composição constante, o que minimiza mudanças bruscas no trato digestivo, facilidade de estocagem e possibilidade de controle de doenças que são transmitidas pelo leite.

Os bezerros possuem enzimas digestivas para digestão de proteínas do leite. Desta forma, a digestão de proteínas que não sejam do leite é limitada no início da vida do bezerro. O sucedâneo do leite pode ser incorporado à dieta de bezerros a partir de quatro dias de idade, desde que seja composto por fonte proteica de excelente qualidade.

Os bezerros nascem com o estômago contendo os mesmos compartimentos de um animal adulto, no entanto o retículo e o rúmen não estão física e metabolicamente completamente desenvolvidos. Os compartimentos do estômago crescem proporcionalmente ao crescimento do animal. Bezerros neonatos alimentados apenas com leite durante os primeiros meses de vida apresentam limitado desenvolvimento do epitélio do rúmen (papilas), do tamanho e do desenvolvimento muscular. Para promover o desenvolvimento do retículo-rúmen e permitir o desaleitamento precoce, é essencial o consumo precoce de dieta que estimule o desenvolvimento do epitélio (aumento da área de absorção) e da motilidade.

Assim, para o desenvolvimento do retículo-rúmen, algumas condições são necessárias: o estabelecimento da microbiota, a presença de líquido no retículo-rúmen, a presença de substrato, a movimentação para mistura do conteúdo destes órgãos e a capacidade de absorção pelos tecidos (desenvolvimento do epitélio). Dos 30 aos 60 dias de idade, os bezerros passam por um grande desafio, que é a manutenção de um pH adequado no rúmen. A ingestão de alimentos sólidos, principalmente concentrados (os bezerros têm grande preferência por estes alimentos, em detrimento dos volumosos), atinge quantidades significativas entre a quarta e a oitava semana de vida. O concentrado oferecido aos bezerros precisa ter alta granulometria ou textura grosseira para provocar a movimentação do retículo-rúmen, a ruminação, a salivação e a manutenção de pH adequado.

Em relação ao desaleitamento do bezerro, com a realização deste os custos de produção diminuem significativamente, pois o leite ou o sucedâneo são frequentemente mais caros que o concentrado ou o feno, e os gastos com mão de obra também são maiores quando os bezerros recebem dieta líquida.

A idade do animal é que serve de base para o desaleitamento, este geralmente é realizado mais comumente aos 60 dias, quando o bezerro está ingerindo, por três dias consecutivos, 700g de concentrado ou quando atinge 90 a 100 kg de peso vivo.

O desaleitamento pode causar redução no consumo de matéria seca e estresse. Para minimizar o estresse, após o desaleitamento os bezerros devem ser mantidos onde estavam sendo criados por pelo menos 10 dias. O período após o desaleitamento (primeiro lote coletivo) é o mais estressante para os bezerros, pois nele ocorre a segunda maior incidência de doenças, sendo necessário grande cuidado nutricional e sanitário. Na alimentação, inicia-se o uso de volumosos, incluindo feno de alta qualidade, gramíneas verdes com alto teor de proteína e energia, silagem de milho ou sorgo e cana-de-açúcar (esta última deve ser dada no menor tamanho possível). Os animais devem ter livre acesso ao concentrado, ao sal mineralizado e à água limpa e fresca.

No segundo lote coletivo o concentrado oferecido aos bezerros começa agora a mudar. Deve-se oferecer 1kg do concentrado oferecido na fase anterior e 1 kg de concentrado para novilhas. No terceiro lote coletivo mantém-se o uso de concentrado para novilhas, pelo menos 2kg/animal/dia e de volumosos de alta qualidade. Se possível, deve ser mantido o mesmo número de animais do lote anterior.

Práticas de nutrição e manejo são fundamentais para saúde, crescimento e produtividade do rebanho. Cada bezerro que nasce representa uma oportunidade para o melhoramento genético e expansão do rebanho. Otimizando o crescimento e minimizando os problemas de saúde os objetivos são possíveis de serem alcançados.

Fonte: CRMV

Adaptação: Revista Agropecuária

 

 

 

Conheça o Curso de Formulação de Dietas e Rações para Bovinos

 

 

Veja outras publicações da Revista Agropecuária: Escolha de Sêmen: Quais os critérios essenciais? Permitida a exportação de suínos e bovinos engordados com ractopamina Impacto da pecuária para o aquecimento global será medido com base na análise dejetos de gados  

 

 

Bovinos de Leite

Notícias

Pecuária

Sites relacionados
Revista Veterinária Revista Veterinária Portal Suínos e Aves Tecnologia e Florestas
© 2024 Revista Agropecuária. Todos os Direitos Reservados.